Encontro com os fundadores do Bloco Bafo da Onça marcou última edição das Conversas do Dia do Patrimônio
09-08-2018 | 14:45:27
O final de tarde desta quarta-feira (8) foi marcado pela chuva em Pelotas, o que não impediu que o fundador do bloco burlesco Bafo da Onça, Roceli Pereira Martins, 78 anos, se dirigisse à sede da Secretaria de Cultura (Secult), situada na Praça Coronel Pedro Osório nº 2, para compartilhar com os presentes um pouco da história do carnaval de Pelotas.
Acompanhado de seu filho e também membro do Bafo, Roceli Pinto Martins, que herda o nome do pai, bem como de Júlio dos Santos, cofundador do bloco, o carnavalesco discorreu sobre as origens do Bafo da Onça, uma das entidades mais populares do carnaval pelotense.
Fundado no bairro Simões Lopes no ano de 1963, é considerado o primeiro bloco burlesco do Brasil a surgir dentro de uma igreja, onde até hoje são realizados os ensaios, não mais no pátio, mas na rua em frente, a Avenida Brasil.
“Nosso hino de entrada nos desfiles é uma meditação, uma oração, uma mensagem de paz, por conta dessa nossa origem na igreja”, conta Júlio dos Santos, cofundador.
O Padre Ozy, que administrava a instituição religiosa , acolhia a ideia do bloco como uma estratégia para atrair os jovens para o seio da igreja. O clérigo chama atenção da população quando começa a desfilar, junto aos demais foliões, fantasiado e maquiado. A história já virou, inclusive, tema de tese de doutorado, defendida em 2017 no Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (UCPel).
O Bafo teve um hiato em suas atividades, por conta de interferências de autoridades da época da ditadura militar, desgostosas com o tom crítico de alguns cartazes que embalavam os desfiles, com os dizeres “Onde está a pas?”, uma crítica à repressão do regime, bem como o lema de acolher "pobres, ricos e remediados".
“Escrevemos dessa maneira porque não existe paz com ‘s’ né, era isso que queria dizer, que não existia a paz naquele momento”, explica o fundador do bloco, Roceli Pereira Martins.
O retorno se deu apenas no ano 2000, puxado por Roceli filho, que até então segue como membro ativo. O atual presidente do bloco é neto de Roceli pai, sem contar os demais membros da família que participam do bloco. O carnaval de Pelotas é, também, uma tradição das famílias que o constroem.
“Minha bisneta, Sofia, já desfilou e segurou a bandeira do Bafo da Onça, ela parece que já sabe a importância que ele tem”, emociona-se Roceli.
Essa foi a última edição das Conversas do Dia do Patrimônio 2018. O Dia do Patrimônio ocorre entre os dias 17 e 19 de agosto, com a temática Pelotas Imaterial: saberes, fazeres e ofícios.