
Emoção marca o lançamento do Painel Mulheres Negras na História de Pelotas
O Pátio Griô Sirley Amaro do Mercado Central tornou-se espaço de reverência e memória na manhã deste sábado (5), com o lançamento do Painel Mulheres Negras na História de Pelotas. A abertura da mostra foi marcada por momentos de muita emoção entre o público que prestigiou a atividade.
O painel é uma iniciativa conjunta das secretarias municipais de Igualdade Racial (SMIR), Políticas para as Mulheres, de Cultura (Secult) e de Turismo (Setur). A ação selecionou 10 mulheres negras já falecidas que, com sua trajetória, deixaram um legado para a cidade. As indicações foram recebidas via whatsapp e as 10 mais citadas foram retratadas.
Durante a abertura do evento, a vice-prefeita de Pelotas, Daniela Brizolara, destacou o compromisso da atual gestão em trazer a público trajetórias que sempre estiveram invisibilizadas no município. Daniela lembrou que conheceu muitas das homenageadas pessoalmente, inclusive tendo sido aluna da professora Eva Eliana Medeiros Gomes.
“Se hoje eu estou vice-prefeita desta cidade, também foi porque essas mulheres passaram na minha vida e me ensinaram e deixaram pra mim um pouco do seu legado”, afirmou. Para a vice-prefeita, o painel contribui para que a sociedade reconheça o potencial e a contribuição da população negra na construção da cidade.
Fotos: Daniel Silveira/Igualdade Racial
O secretário de Igualdade Racial, Júlio Domingues, enfatizou que, tradicionalmente, a história oficial tende a homenagear figuras brancas e que é preciso resgatar outros nomes e biografias que também escreveram parte da história de Pelotas. “Essas mulheres fizeram ciência, empreenderam, trabalharam na cultura, na saúde, nas mais variadas áreas”, comentou.
Conforme Domingues, o Painel oficializa a contribuição e presença das 10 escolhidas na memória dos pelotenses. “São figuras que foram fundamentais em processos históricos da cidade e que merecem muito essa homenagem”, declarou.
Representante da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Ledeci Coutinho frisou que a ação nasceu do profundo respeito e reconhecimento à luta de todas as mulheres retratadas no Painel. “Elas, que decidem que vão mudar a condição de vida dos seus filhos, dos seus netos e das suas famílias. Então, é com muita honra, de arrepiar o coração, que a gente pensou humildemente em fazer essa homenagem”, justificou.
A secretária Municipal de Cultura Carmem Vera Roig também participou da atividade.
Familiares das homenageadas marcaram presença no ato. Entre eles, a emoção estava à flor da pele. A pedagoga Cristiane Gomes, filha da professora Eva Gomes, relatou que a família se mobilizou para buscar votos para a matriarca. “Para nós, essa ação é de suma importância. Agora, a trajetória da mãe está registrada na história, assim como já estava para nós, nossos filhos e descendentes”, avaliou. Também filha de Eva, Alessandra Gomes considerou a ação muito bonita e válida.
Pai da homenageada Caroline Medeiros, o gestor e servidor público Sandro Ávila Medeiros, revelou que a indicação do nome da filha partiu do Comitê de Desenvolvimento do Dunas (CDD), entidade que a filha frequentava e onde desenvolvia seu ativismo pela negritude e o empreendedorismo negro. “Nossa família está muito feliz e agradecida pela lembrança dos amigos. É muito importante a Prefeitura reconhecer essas mulheres, porque esta é uma luta que não termina”.
Irmã da cantora e produtora cultural Josiane Maciel, a professora Rosiane Maciel Carvalho Silva, classificou o momento como especial. A menos de 30 dias do falecimento da irmã, ela contou que a família tem vivido um período de contato com as memórias e a ancestralidade. “Temos gratidão por essa atividade que, com sensibilidade, reconhece o legado não só da Josi, mas de todas as mulheres homenageadas. Fortalecendo a história para termos um melhor futuro, com mais igualdade racial”, afirmou.
Marido de Josiane, o professor universitário Fábio Silva de Oliveira avaliou que o Painel irá promover um momento de ressignificação para a sociedade pelotense. “A cidade tem muito a ganhar conhecendo a história dessas mulheres”.
O filho da mestra griô Sirley Amaro, Eduardo da Silva Amaro, considerou a iniciativa louvável. “É digna de aplauso essa junção de pretos, pretas, brancos, brancas, pessoas, seres humanos unidos aqui para homenagear outros seres humanos, outras vidas que escreveram um legado.”
O Painel Mulheres Negras na História de Pelotas está inserida dentro das programações do aniversário de 213 anos de Pelotas e do Julho das Pretas, iniciativa que marca a passagem do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 deste mês.
As 10 mulheres que integram o painel são a produtora cultural Josiane Maciel Carvalho Silva; enfermeira e professora universitária Hildete Bahia da Luz; doceira e banqueteira Santa Cristina Pinheiro; a professora Eva Eliana Medeiros Gomes; trancista Caroline Medeiros; principal fundadora do Asilo de Órfãs São Benedito, Luciana Lealdina de Araújo; compositora e intérprete Ligiamar Brochado Jesus, a Giamaré; professora e escritora Maria Helena Vargas da Silveira; Mestra Griô Sirley Amaro; e a escultora Judith da Silva Bacci. A exposição exibe pôsteres com fotografia e breve biografia das homenageadas.
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