Sete apenados, do grupo 'Guris do Pacto', recuperou 1,5 quilômetro de valetas. Serviço está na metade
20-05-2019 | 11:41:39
Desde abril, equipe do projeto Mão de Obra Prisional (MOP) – parceria entre a Prefeitura e a Susepe – atua na recuperação de aproximadamente 3 quilômetros de valetas localizadas na Vila Governaço, no Fragata. Nessa segunda-feira (20), metade dessa extensão havia sido qualificada, após um trabalho difícil que envolve o uso de canecos – grandes canos de ferro passados por dentro dos canos – e pás, tendo em vista o tamanho reduzido das valetas. O trabalho pertence ao eixo Prevenção Social do Programa Pacto Pelotas pela Paz da Prefeitura.
Conforme o responsável pela equipe, Cláudio Luis Moura, atualmente 24 apenados dos regimes domiciliar e semiaberto atuam no projeto, divididos entre as secretarias de Serviços Urbanos e Infraestrutura (Ssui), de Saúde (SMS) e de Assistência Social (SAS). “Estamos com um grupo muito bom. O pessoal pega firme, e, aos poucos, vai abrindo e limpando as valetas, coisa que não é fácil”, conta, ressaltando que antes de cada trabalho todos fazem questão de fazer uma oração.
Para o apenado Leonardo*, 52 anos, a atuação no MOP é uma oportunidade de mudar de vida e poder ver o céu. Ele ficou oito anos preso no Presídio Regional de Pelotas (PRP), em regime fechado, e hoje integra há seis meses o projeto de ressocialização. “Não tem coisa melhor do que sair daquele lugar. Aqui eu vejo o céu, respiro ar puro, consigo pensar num futuro”, afirma, enquanto ajuda os colegas no trabalho pesado.
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No caso do MOP, não há barreiras que impeçam o avanço dos trabalhos. Valetas invadidas por raízes de árvores, cheias de lixo ou terra deixam o trabalho manual mais lento, mas cada desafio vencido é uma vitória comemorada. “É difícil. Nem sempre a comunidade entende que o que estamos fazendo vai ajudar; eles só veem a sujeira na frente de casa e não lembram que aquilo vai resolver os alagamentos”, explica um dos membros da equipe.
Ele se refere ao fato de ser necessário deixar o material retirado das valetas secar, antes de ser removido pelos caminhões da Ssui. Na drenagem urbana, por exemplo, até 150 metros são limpos, diariamente, dentro da frente de atuação que existe desde 2017.
O carpinteiro Paulo Ricardo de Souza, 56 anos, reconhece e agradece o trabalho do MOP. Ele mora há mais de 20 anos na Vila Governaço e só nos últimos governos tem visto melhorias no local. “É bom que eles estejam limpando. Nunca havia visto um trabalho desses aqui e é preciso valorizar”.
Ao todo, 24 trabalhadores dos regimes aberto e semiaberto integram a equipe do MOP Ssui, que atua em reformas na Hospedaria de Grandes Animais, na construção de Ecopontos, manutenção de praças, drenagem de vias e serviços gerais da Secretaria. Só em 2019, cerca de 40 apenados já passaram pelo projeto. Entre os "Guris do Pacto", como se autodenominam, o sentimento é de gratidão pelo voto de confiança. Na última sexta-feira (17), por exemplo, eles receberam camisetas do projeto, exibidas com orgulho nessa segunda-feira (20), durante a intervenção na Vila Governaço.
A semente que deu origem ao MOP foi plantada em 2014, quando o então chefe da Saúde Bucal de Pelotas/RS, Leandro Thurow - atual secretário de Saúde do município -, junto ao coordenador do Presídio Regional de Pelotas (PRP) firmaram acordo para o uso da mão de obra dos apenados para recuperação do consultório dentário do local, na época em péssimas condições.
A parceria deu tão certo, que todo o complexo de saúde da prisão recebeu melhorias. Pouco tempo depois, outros prédios municipais, principalmente Unidades Básicas de Saúde (UBSs), começaram a ser reformadas. Em 2015 a Prefeitura e a Susepe firmaram um Protocolo de Ação Conjunta (PAC) que possibilitou o avanço do projeto e mais tarde, em 2017, a sua inserção no Pacto Pelotas pela Paz, programa voltado à prevenção e à redução dos índices criminais.
Desde que foi criado, o projeto já reformou 25 unidades de saúde, fora prédios públicos da cidade, e reabilitou quilômetros de valetas, atuando ainda nos Ecopontos e bairros da cidade. Mais de cem apenados dos regimes fechado, semiaberto e aberto participaram da iniciativa, que aposta na ressocialização, por intermédio da necessária interação entre os trabalhadores penitenciários e a sociedade; para a construção de novas histórias de vida.