Evento promovido pelo Pacto Pelotas pela Paz reuniu especialistas para discutir o papel da escola na prevenção da violência
16-05-2019 | 18:11:20
O 2° Fórum de Prevenção à Violência Escolar promoveu em Pelotas, nesta quinta-feira (16), uma série de palestras com especialistas que abordaram temas pertinentes ao cuidado de crianças e jovens. Esta é mais uma iniciativa do Pacto Pelotas pela Paz, que busca agir dentro dos educandários para envolver alunos, pais e educadores em uma cultura de paz.
Paula defende que a escola é o grande centro de prevenção à violência
O impacto da violência no funcionamento do cérebro, as formas de prevenir o bullying, a depressão e o suicídio foram as pautas do encontro, realizado no Colégio Pelotense.
A prefeita Paula Mascarenhas acompanhou a palestra do pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, Augusto Buchweitz, que tratou sobre o reflexo da violência no aprendizado e na atividade cerebral.
O professor da Escola de Ciências da Saúde da PUC/RS apresentou resultados do projeto VIVA – Vida e Violência na Adolescência – primeiro estudo de neuroimagem que investiga como a violência afeta o cérebro de adolescentes latinoamericanos. Ele esclareceu que quanto mais alto o índice de vitimização constatada, uma menor atividade na área cerebral chamada insula foi mostrada. “Com o estresse, partes que deveriam estar ativas não ficavam”, pontuou.
Buchweitz também declarou que a adolescência é um período delicado, já que o cérebro ainda está em fase de amadurecimento. “A violência e o estresse podem impactar nesse desenvolvimento e fazer com que os comportamentos de risco, correspondentes à impulsividade dos jovens, sejam potencializados”, informou.
“O foco da prevenção à violência escolar está nos relacionamentos saudáveis. Criança não aprende quando não mantém vínculos.” A afirmação da pedagoga, que é referência em Justiça Restaurativa no Estado, Katiane Boschetti, responde uma das questões levantadas pelo evento: qual o papel da escola e do educador para reduzir a violência nos ambientes escolares?
Membro do corpo docente da Ajuris, a profissional é responsável pela primeira formação de facilitadoras na Educação de Pelotas – atualmente, 51 estão distribuídas em 33 educandários do município organizando Círculos de Construção da Paz. Retornando hoje à cidade, Katiane vê com satisfação a proporção que ganhou a iniciativa.
“Pelotas hoje é referência no Rio Grande do Sul por desenvolver os círculos restaurativos em diversos espaços. É um orgulho ver este trabalho”, apontou.
A metodologia ancestral originária dos povos indígenas, de acordo com Katiane, é uma ferramenta importante para estabelecer relacionamentos mais saudáveis, o que consequentemente impactará em ambientes mais seguros e acolhedores.
“O Círculo é instrumento de prevenção e transformação de conflitos. Crianças e adolescentes que sentem-se seguros, em relacionamentos bons, automaticamente, estarão mais preparados para aprender e conviverem em harmonia”, acrescentou.
Em 2017 e 2018, 187 círculos foram realizados nas escolas do Município, envolvendo 3.416 pessoas. Neste ano, 25 já foram promovidos, envolvendo mais de 430 estudantes e educadores.
Município propõe o diálogo como ferramenta de prevenção à violência escolar
Instrumentalizar os educadores para identificar situações de risco, como automutilação e depressão, foi um dos objetivos da fala de Gabriela Haack, psicóloga e especialista em Atenção Psicossocial no âmbito do SUS. A coordenadora da rede Álcool e Drogas (AD), da Secretaria de Saúde, explicou que a mudança brusca de comportamento pode ser um sinal ao qual os cuidadores precisam estar atentos.
“Aquela criança bastante sociável que, de repente, começa a se isolar, fica mais irritada e começa a apresentar dificuldade de concentração e rendimento, representa um alerta”, destacou. A psicóloga reforçou que a prevenção à depressão e ao suicídio também integra a mobilização pela cultura da paz.
De acordo com ela, o profissional da educação tem a oportunidade de observar os alunos em ambientes de relações, por estarem inseridos em grupos, o que pode ser determinante para a percepção destes sintomas. Questionada sobre como o vínculo com o professor pode colaborar no processo de prevenção, Gabriela detalhou: “É quem pode fazer uma escuta ativa, interessada e sem preconceito”.
Há mais de um ano, o Município mantém um programa de monitoramento das tentativas de suicídio que chegam ao Pronto Socorro, a fim de acompanhar estas situações, encaminhar aos serviços da rede e impactar na diminuição da reincidência.
O promotor de Justiça Regional da Educação, Paulo Roberto Gentil Charqueiro, trouxe a pauta do bullying para a discussão e defendeu que o debate constante no âmbito escolar é a melhor ferramenta para acabar com o problema.
“É importante que todos entendam o que é o bullying, saibam que isso não é uma brincadeira de criança, como algumas pessoas pensam. Há evidências e estudos que comprovam as consequências negativas que ele pode gerar na vida adulta”, disse.
O promotor sustentou que o debate precisa transcender a sala de aula e envolver toda a comunidade. Charqueiro salientou que o bullying gera um ciclo de violência, onde quem comete a agressão também é vítima. “A prevenção não deve ser uma ação eventual, mas sim, integrar o projeto pedagógico dos educandários durante todo o ano", concluiu.